Os «relógios de repetição» para uso doméstico ou no pulso surgiram por volta de 1890, possuindo a característica inteiramente inovadora de anunciarem com clareza, de forma acústica, uma hora pré-programada, ou tocarem um alarme por duas ou mais vezes sucessivas. Por analogia, passaram a ser pejorativamente apelidadas de «relógios de repetição» aquelas pessoas com tendência para falarem sempre do mesmo assunto, ou pronunciarem constantemente, como num eco, frases produzidas por outrem.
São também «relógios de repetição» os homens e as mulheres que apenas escrevem textos reproduzindo sempre uma mesma ideia ou orientação. Fazendo-o, em regra, sob a forma de «língua de madeira», termo surgido em 1919 na imprensa francesa para qualificar os repetidores das palavras do presidente Clémenceau, depois aplicada à retórica de alguma ortodoxia de inspiração marxista. Ou como adeptos da «novilíngua», um conceito inventado em 1949 por George Orwell, no romance 1984, para significar uma linguagem condensada tendente a simplificar palavras e a reduzir ou eliminar a complexidade dos seus sentidos.
A estes dois pobres recursos continua a recorrer quem é incapaz de acrescentar palavras e ideias da sua própria lavra a um ideia-feita, muitas vezes retirada de programas políticos ou de livros sagrados, ou quem tem medo de ser tomado por heterodoxo ou livre-pensador. Isto é, quem se aplica a evitar divergir do monótono ramerrão que prefere replicar e lhe parece trazer segurança. Por esse motivo, o que escreve torna-se tão vazio, expectável e entediante que só quem pensa e age como ela lê e aprecia aquilo que escreve ou diz.