A data do 25 de Abril (escrito sempre com maiúscula) transporta consigo uma profunda carga simbólica. Não apenas por evocar o dia fundador da nossa democracia, mas por integrar também uma memória da longa e heróica resistência ao fascismo, da luta pela liberdade de viver e de opinar, do combate pela dignidade dos direito fundamentais e da esperança num país mais solidário e mais desenvolvido. A um ano de cumprir os seu quinquagésimo aniversário, permanece sem dúvida, para a maioria dos portugueses e das portuguesas, um momento fundamental de celebração e de identidade democrática.
Já para os fascistas nas suas diversas formas, que os há cada vez mais, ou que se mostram agora como antes não tinham a coragem de o fazer, e para quem com eles está pronto a pactuar, de modo algum possui esse significado, representando justamente o seu oposto. Hoje com o reforço que lhes é conferido pelas estratégias do populismo, que se servem de anseios legítimos, de alguns descontentamentos e de determinados medos atávicos, para promover um regresso aos valores do passado, a inversão de sentido da longa luta pela igualdade e a aceitação das práticas do autoritarismo. Também por isto o 25 de Abril permanece um dia de luta.
Contudo, para as gerações mais recentes, a memória que, para os mais velhos, funciona como motivação, não possui a mesma força e sentido. Como acontecia com as pessoas mais ou menos da minha geração, para as quais a emocionada celebração anual do 5 de Outubro pelos velhos republicanos era em boa parte incompreensível, sendo até, por vezes, algo ridicularizada. Por isso, a evocação do 25 de Abril não pode confinar-se ao cerimonial, à nostalgia de um tempo exaltante ou à repetição de slogans e afirmações generalistas que os mais jovens ignoram e já nem ouvem. Para não morrer, precisa antes, e com urgência, de criatividade formal e de uma ligação aos combates progressistas e solidários do presente.
Rui Bebiano