Ao contrário de muitos provérbios populares que expressam verdades do saber comum, o «gostos não se discutem» não faz grande sentido. Até porque, como já li algures, e tendo a concordar, «a vida é a luta pelo gosto». Refiram-se estes a comida, cores, vestuário e odores, ou a pessoas, atividades, partidos e clubes de futebol, ou ainda a música, livros, filmes, ideologias e religiões. Dada a diversidade de culturas, experiências e do próprio humano, temos o dever de aceitar os gostos dos outros, mas não podemos isentá-los de discussão, ainda que esta jamais chegue a uma conclusão unívoca. De outra forma, tudo teria o mesmo valor e seria, como dizia uma expressão vulgar hoje caída em desuso, «igual ao totobola».
Vem isto a propósito das 200.000 pessoas que se esperam em Coimbra para os quatro concertos da banda londrina Coldplay. Não se trata aqui de debater o caos instalado na cidade, a perturbação da vida dos seus habitantes ou do comércio ou os 440.000 euros de subsídio camarário, mas de tentar aferir o que leva tanta gente a afluir neste número a espetáculos de uma banda, já com 27 anos de percurso, que apenas produziu no início um ou dois álbuns de estúdio de alguma originalidade, seguindo-se outros sete completamente medíocres e repetitivos. O mesmo poderia questionar-se, por exemplo, a propósito do que determina afluências análogas em apresentações de cantores da chamada música «pimba». Não é um ideal de qualidade, beleza e inovação, mas uma peculiar ideia de diversão.
O que os Coldplay oferecem é um produto de ordem lúdica que tem os concertos como foco. São momentos hipertrabalhados no plano dos efeitos visuais, sempre com o som no máximo dos decibéis, causando um estado de embriagamento que muitas pessoas, sem conhecerem outras formas de obter a mesma coisa com qualidade e originalidade, de facto procuram. Aliás, é esta ausência de originalidade que determina parte da procura. O que surpreende é o número elevado de gente com formação académica, estatuto e meios para aceder a mil bens culturais e de entretenimento, cujo horizonte de gosto se resume a esta lástima ou a produtos análogos. Porém, como reza um outro provérbio: «Se todos os gostos fossem iguais, o que seria do amarelo?»