Como meio mundo na época em que se tornou fenómeno de moda em círculos com hábitos de leitura e mesmo entre quem dele não leu uma linha, comprei logo que saiu a tradução portuguesa de A Insustentável Leveza do Ser A data que tem a edição é 1985, tendo o original saído dois anos antes em Paris. Depois li O Livro do Riso e do Esquecimento e, andando para trás na data de escrita, fui ainda à procura de A Brincadeira. Mais tarde tentei atirar-me ao Imortalidade, mas não cheguei sequer a meio, creio que por possuir um enredo, digamos assim, menos vivencial.
Na Insustentável Leveza tinha procurado, recordo com bastante clareza, algo sobre a frágil natureza do destino, do amor e da liberdade humana vividas intensamente, como formas de subversão, à sombra de um Estado didático, vigilante e repressivo. Tudo ali me parecia revolta e coragem pessoal. Depois, talvez porque essa dimensão terá desaparecido dos seus enredos, Kundera deixou de me interessar com antes.
Já neste século circularam notícias sobre suspeitas lançadas, com base numa lista que supostamente assinara com pseudónimo, a propósito do tempo em que, antes ainda de romper com o sistema político que se esboroava – foi expulso por duas vezes do Partido Comunista checo -, teria denunciado colegas à polícia política. Mas também li um abaixo-assinado em que escritores consagrados refutavam essa acusação e o defendiam de uma forma veemente. A partir do episódio, todavia, admito que não mais o procurei. Pode ser que tenha sido injusto e perdido algo de bom.
Fotografia: Kundera em 2010 [Duclos/Sipa]