Sou dos que se formaram e viveram grande parte da vida na cultura do livro e do papel, sabendo, todavia, que já se torna difícil, quando não impossível, acompanhar o mundo de hoje de uma forma próxima e atualizada se nos cingirmos a ela. Como sei que para a larga maioria das pessoas mais jovens, sobretudo no mundo industrializado, em boa parte ela já foi totalmente substituída. Porém, apesar de ter vindo nos últimos anos a doar boa parte da minha biblioteca física, ainda tenho perto de 12 mil volumes, sendo, ao mesmo tempo, leitor diário de ebooks e textos em pdf.
Talvez por ter começado muito cedo a usar computadores e a Internet, habituei-me depressa a conviver com os dois mundos, ainda que, principalmente no romance e na poesia, continue, até ver, a preferir o papel (ok, bem conheço o discurso sobre o toque e o cheiro, que, aliás, também experimento). Já para o ensaio, muito mal estaria profissionalmente se não lesse quase tudo em ebook. Quanto aos jornais, há para aí uma década que, consumidor inveterado – só diários generalistas assino cinco -, deixei de todo de ler os cadernos em papel, que agora, sinceramente, sinto como material de um arquivo. Além disso, mesmo aqui é muito fácil guardar e anotar o que queremos, desde que tenhamos a tecnologia adequada, cada vez mais simples e barata.
É por isto que vivo como obstáculo e um grande incómodo, como aconteceu há poucos minutos, ter mesmo de comprar, por causa de uma tradução que pretendo utilizar bastante, um volume de cerca de 1.200 páginas em papel. A maioria das editoras portuguesas ainda resiste ao digital, ao qual, mesmo na ótica do mercado deveria de facto atender. Por mim, já comprei centenas de livros em ebook que se existissem no digital teria preferido ter e manusear neste formato. A título de curiosidade: os meus dois últimos livros, que saíram nas Edições 70, estão disponíveis nos dois formatos.