A coerência, entendida como forma de equilíbrio entre aquilo que alguém proclama, aquilo em que acredita e o que faz, é uma qualidade positiva e, se não rara, pelo menos escassamente distribuída. Não pode, porém, ser confundida, e tantas vezes é-o, com a teimosia das atitudes ou a calcificação do pensamento, próprias de quem se recusa a conformar as convicções às mudanças do mundo e da história. Por este motivo, ser-se ortodoxo, no sentido de tomar sempre como falsos e inaceitáveis ideias e factos que questionam as suas ideias ou as revelam caducas, não pode ser tomado – e por vezes assim é, quando aplicada a alguns percursos de vida – como grande qualidade. Existe, todavia, uma coerência positiva: a de quem não desiste de uma perspetiva do mundo crítica e atenta à mudança, ou a de quem vê nos princípios elementares da solidariedade humana algo de que jamais abdica. Por muito que em alguns momentos para o fazer tenha de se mostrar «incoerente» e fazer escolhas difíceis
[Originalmente no Facebook]