Sou fiel leitor do Diário de Notícias desde os finais dos anos 50. Foi o meu avô paterno, seu correspondente e representante local, quem, antes ainda da primária, me ensinou a ler pelas então enormes páginas do jornal, transmitindo-me ao mesmo tempo esse vício da informação e sede de notícias que me acompanha até hoje. Tinha 5 anos e o avô Manuel gostava de me exibir aos amigos, como um macaquinho de bibe, lendo-lhes notícias inteiras. Que, obviamente, pouco ou nada compreendia.
Mas o bicho ficou e, ao longo dos anos, o Diário de Notícias continuou a ser o meu jornal, comprado todos os dias, e hoje assinado, a par de outros títulos nacionais e internacionais – entre eles, desde 1990, o Público -, com os quais vou alimentando o a vontade de conhecer o que se passa à minha volta. Nunca deixei de o ler, colaborei por diversas vezes nas suas páginas, e apesar da degradação de qualidade e de orientação que começou a notar-se pelos inícios do século, mantive o interesse.
Porém, mais recentemente, abrir o jornal, agora apenas em versão eletrónica, passou a traduzir-se em constantes momentos de deceção e numa permanente preocupação, dada a descida de qualidade ao nível dos conteúdos e da escrita, o aligeiramento das matérias, o quase completo desaparecimento do jornalismo cultural, e a deriva de direita da maioria dos jornalistas e da orientação editorial. Por diversas vezes fui pensando em anular a assinatura, mas o que descrevi atrás foi falando mais alto em nome da fidelidade, e acabei por não o fazer.
Agora tudo piorou. Basta ver aquilo a que a atual direção chama «renovação gráfica»: para além da confusa funcionalidade, a redução do número e da dimensão das matérias, a ampliação desmesurada das fotografias, o maior sensacionalismo e a acentuada tendência para copiar outros jornais da Global Media. Sim, o grupo que também detém o Jornal de Notícias e a TSF, que agora quer despedir 200 jornalistas. Vou esperar a ver o que acontece com a greve que vão fazer, mas temo muito ter em breve de dizer adeus ao companheiro matinal de mais de seis décadas.
Rui Bebiano