Leio com cuidado as propostas mais destacadas que os dois principais partidos à esquerda do PS adiantam para esta campanha eleitoral. Tenderia a dizer, não que «concordo com tudo», pois algumas apontam para medidas de governo dificilmente exequíveis, mas que estou de acordo com as áreas de intervenção governamental onde elas são necessárias, em alguns casos mesmo urgentes. Trata-se de medidas que aproximem a sociedade portuguesa de um melhor quadro de justiça social e de bem-estar nos domínios da habitação, da saúde, da educação, da justiça fiscal, da legislação laboral, da comunicação social, da corrupção, do clima, dos salários, das pensões e do combate à pobreza. Para todas, em diferentes escala, reivindicações concretas, que apontam para medidas possíveis e outras impossíveis, ainda que todas, sem a menor dúvida, muito desejáveis.
Ao mesmo tempo, porém, não existe nada de claro sobre áreas que implicam opções de governação e quadros de funcionamento de Portugal, ou de qualquer país, como a política económica, a dívida pública, as opções de desenvolvimento, a inscrição de Portugal na Europa, a política internacional, as políticas relacionadas com as migrações, a cultura e os direitos humanos. E ainda, é claro, os quadros estratégicos e de aliança para o mais do que imprescindível enfrentamento da direita e da extrema-direita. Isto significa que são propostos apenas simpáticos cadernos reivindicativos, não soluções para os destinos do país. São falhas desta natureza que, para muitos dos eleitores que tenderiam a votar nesses partidos, os podem levar a escolher quem lhes fale de políticas capazes de orientar a governação da nossa casa comum.