Por momentos, vou relevar aqui tudo aquilo que Passos Coelho simboliza para quem, de uma forma justa e informada, observou e se recorda do que foi viver em Portugal entre 2011 e 2015, após ter falhado praticamente todas as promessas que tinham feito dele primeiro-ministro. Concentro-me, apoiado nos números avançados hoje no Público pela jornalista Bárbara Reis, na colossal mentira, apresentada embora como «sensação» – um fator que, como sabemos, pode significar tudo, nada ou algo mais ou menos parecido – avançada por Passos no comício do PSD no Algarve: «Precisamos de ter um país aberto à imigração, mas cuidado, precisamos também de ter um país seguro. O Governo fez ouvidos moucos e hoje as pessoas sentem uma insegurança que é resultado da falta de investimento que se deu a essas matérias.» Isto é, procurou usar uma das ideias-chave da direita populista para mobilizar eleitores contra a esquerda, acabando, algo absolutamente indigno de um ex-governante, por ajudar a espalhar um medo não-fundamentado, assim enganando quem o ouve e (em alguns casos) ainda respeita.
Laborou numa mentira, pois os números não apontam para nada disso. Passo por cima dos sucessivos relatórios internacionais que consideram Portugal sempre dentro dos dez países mais seguros do mundo e concentro-me nos números oficiais que temos. Os cidadãos estrangeiros residentes em Portugal têm vindo a aumentar: eram 395 mil em 2014, 590 mil em 2019 e 781 mil em 2022. Agora serão mais ainda. Mas em contrapartida, para os mesmos anos, o número de estrangeiros condenados, para além de ser infinitamente inferior ao de portugueses, vem sempre a diminuir, mesmo com esse importante crescimento do volume da emigração. Os números: em 2015, 10.091 portugueses condenados e 1828 estrangeiros; em 2019, 9201 e 1321; e em 2022, 8744 e 1169. Portanto, Passos mentiu, ajudando a disseminar o medo e a discriminação. Bárbara Reis escreve: «Onde vê Pedro Passos Coelho a relação entre imigração e insegurança? Não sei. A cabeça dos políticos é um mistério, onde se cruza ambição, tacticismo e estratégia.» Não quero generalizar, mas no caso em apreço está tirado o retrato.
[Originalmente no Facebook]