Parece-me mais ou menos óbvio que nesta altura de viragem entre nós, o combate da esquerda plural, tanto no isolamento e no afastamento do populismo de extrema-direita como na busca para procurar evitar perder os inegáveis, ainda que sem dúvida insuficientes, avanços progressistas gradualmente obtidos a partir de 2015, passa por uma aproximação política e até orgânica das suas partes. Defendo-o há muito, se bem que quase sempre a nadar contra as marés do sectarismo ou da simples cegueira política. Isto não exclui, é claro, as diferenças, algumas bastante fortes e históricas, que existem entre as suas partes, mas tende a relevar, e sobretudo a desenvolver, aquilo que, no essencial, se não as une, por certo as pode aproximar.
Todavia, o trabalho por fazer precisa excluir erros antigos, cujos indícios já se podem ver no horizonte. Um é o exacerbar das contradições, como se cada uma das componentes detivesse a verdade absoluta. Outra é valorizar em excesso os erros do passado, que não devem ser esquecidos, mas servir de lição. Por fim, aspeto muito importante, o trabalho para contrariar a direita e a extrema-direita não pode fazer com que se empurre esta para os braços daquela. O governo da direita neoliberal que está em formação terá muito para ser contestado, mas não traduz uma solução antidemocrática. Por isso deve evitar-se a conhecida solução radical que consiste em meter tudo dentro do mesmo saco e considerar que quanto piores as coisas estiverem melhor será para se chegar a uma solução vaga e milagrosa caída do céu. Importa combatê-lo com firmeza, mas não diabolizá-lo, tornando-o presa fácil dos vampiros.
[originalmente no Facebook]