É de todo contraproducente, além de um erro histórico gritante, apelidar de fascismo o que não é fascismo, apenas porque o objeto assim apelidado corresponde a escolhas e atitudes que articulam com posições de natureza conservadora ou assumidamente de direita. A extrema-direita atual, tirando curtas franjas completamente retrógradas e que ainda sentem nostalgia pelos regimes fascistas do século passado, não é formalmente fascista: é antes populista e xenófoba, mas também neoliberal e defensora das possibilidades que a democracia lhe oferece. Chamá-la de «fascista» é anacrónico e instala a confusão, desarmando os cidadãos perante as suas iniciativas, de uma natureza bem diversa da dos fascistas do século passado.
Como, e neste caso muito menos, de modo algum é «fascista» a direita democrática, que, ao ser tratada desse modo, cortada a relação com as correntes progressistas que o fazem, tende a ser empurrada para os braços daquela outra, mais extrema e assumidamente antidemocrática. Como não são «fascistas» também as pessoas – de forma absurda, até já vi chamar assim até a homens e mulheres próximos do PS – que exibem escolhas pontuais de natureza autoritária ou de complacência para com a direita e para com interesses associados ao mundo dos negócios. Disseminar este logro a nada leva, salvo a oferecer a quem o faz a ficção de viver em permanente guerra contra todos, nela confundindo inimigos e ocasionais aliados.
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