A Schutzstaffel, palavra composta alemã que em português se pode traduzir por «tropa de proteção», é vulgarmente conhecida pelo seu acrónimo SS. Sim, refiro-me à força de elite composta por voluntários à disposição de Hitler, a quem jurava absoluta fidelidade, sujeita a critérios de seleção apurados e destinada a executar as operações mais difíceis e cruéis, que os militares e polícias normais muitas vezes tinham relutância em realizar. De 1929 até o colapso do regime em 1945, a SS foi a principal agência de segurança, vigilância e terror na Alemanha e na Europa ocupada, sendo particularmente responsável pelas ações de extermínio, muitas indiscriminadas, e pelo funcionamento mecânico e implacável dos campos de concentrações.
Em 2006, o autor norte-americano Jonathan Littell, escreveu em francês um longo romance cujo título português é As Benevolentes. É basicamente construído como um longo monólogo de um oficial SS que sobreviveu à guerra e conseguiu fugir à desnazificação, onde este aborda a forma como é possível ser-se um assassino sem se ser sádico, pois os piores crimes são ali tratados como assuntos a resolver tecnicamente, não como expressões de ódio. O romance, muito bem escrito e bastante vendido, foi premiado, mas também objeto de crítica. Uma delas consistia em apresentá-lo como exemplo de reconhecimento dessa «banalidade do Mal» sobre a qual, muito antes, com toda a propriedade escreveu Hannah Arendt.
A evocação da Schutzstaffel está agora no centro de uma polémica dentro da extrema-direita europeia, após Maximilian Krah, cabeça da AfD, Alternativa para a Alemanha, para as eleições do PE, ter declarado que os membros das SS «não eram todos criminosos». A controvérsia não deixa de ser reveladora da hipocrisia daquele setor político. Alguns dos seus dirigentes, como Marine Le Pen ou Matteo Salvini, pressionados pela memória da agressão nazi junto do seu eleitorado, «romperam» com a AfD, apesar das suas escolhas políticas serem análogas. Parte da atual extrema-direita não se importa de passar por «democrática» quando tal lhe convém para obter votos.
Rui Bebiano