1. A primeira coisa que um observador progressista dotado de razoável sentido de realismo político dirá é que os resultados globais das eleições para o Parlamento Europeu não foram tão maus quanto se esperava. Ao contrário de muitas sondagens e de diversos textos de reconhecidos analistas, a extrema-direita populista, apesar de ter crescido – e isso aconteceu particularmente em dois estados centrais, como a França e a Alemanha – não conseguiu, longe disso, impor uma maioria soberanista e antidemocrática. Ao contrário, os partidos democráticos do centro-direita e os do centro-esquerda, mantêm-se em maioria, o que augura, se nada inesperado acontecer, cinco anos de laboriosas negociações e, em muitos casos, de impasses. Em contrapartida, as forças associadas à política verde e às causas da esquerda recuaram de uma forma inquestionável, o que é uma má notícia, reduzindo a possibilidade de uma reformulação da política europeia no sentido cada vez mais imperioso da proteção do clima, da solidariedade social e da defesa da paz e dos refugiados.
2. Esta foi também a tendência em Portugal, com os grandes partidos do centro-esquerda e do centro-direita a conseguirem a larga maioria dos votos e dos mandatos. O recuo do Chega, sendo em princípio uma boa notícia, teve como contrapeso o crescimento da Iniciativa Liberal, o que pode ter-se devido, não tanto a um «arrependimento» de muitos eleitores que nas Legislativas votaram cegamente no primeiro – ele poderá ter ocorrido, sem dúvida, mas numa escala menor – mas mais provavelmente a um candidato da IL visivelmente mais bem preparado, dentro dos seus valores, e com uma melhor presença pessoal, do que o atabalhoado cabeça de lista escolhido por André Ventura. À esquerda do PS, entretanto, ocorreu um claro recuo, tanto mais lamentável quanto dos quatro partidos da área (Bloco de Esquerda, PCP, Livre e PAN), o mais assumidamente europeísta é, de facto, o Livre, que não elegeu.
3. A terceira reflexão é uma tentativa de compreensão do facto do Livre, apesar de ter visivelmente crescido, não ter conseguido eleger um deputado. Faço-o também porque sou seu membro, mas o que escrevo apenas a mim vincula. Muito se disse por aí, em informação muitas vezes manipulada e quase sempre fundada em falsidades, meias-verdades e incompreensões, sobre o problema ocorrido, no processo das eleições internas, com o candidato Francisco Paupério. Não querendo retomar o assunto e não questionando minimamente o trabalho do candidato – que me pareceu sempre empenhado e muito capaz – pode ser verdade que as dúvidas levantadas terão desmobilizado eleitores. Diria, porém, ainda que apenas numa primeira impressão, que o crescimento inferior ao esperado teve sobretudo três causas: em primeiro, o excessivo peso da argumentação sobre a política verde, pois sendo importante e matricial no partido, por vezes quase tapou os outros temas; em segundo, e em consequência disto, uma menor visibilidade pública das propostas sobre a dimensão solidária, europeísta, desenvolvimentista e antifascista do partido; em terceiro, e, repito, apesar das suas evidentes qualidades, a inexperiência do cabeça de lista, nem sempre tão secundado como seria importante que tivesse sido.