As notícias sobre a vitória incontestável e estrondosa do Partido Trabalhista nas eleições gerais que tiveram lugar ontem no Reino Unido, com 412 deputados e 9,8 milhões de votantes para os 121 dos conservadores, com 6,8 milhões, merecem um olhar cuidado. Desde logo porque ela apenas foi possível com uma considerável inflexão dos trabalhistas ao centro, o que lhes poderá ter concedido a fácil vitória, mas os irá forçar também a manter compromissos que facilmente trarão problemas e descontentamento.
O pior, porém, é a subida do Reform UK, o partido de extrema-direita dirigido pelo populista Nigel Farage, o sujeito que, através da mentira e da coação, inventou o Brexit. Poderá dizer-se que o partido conta só com quatro deputados na Câmara dos Comuns, mas isto apenas se deveu ao sistema eleitoral britânico do «winner takes all». Na realidade, o Reform UK teve 4,1 milhões de votos, isto é, 14,3% do eleitorado, acima dos Liberais Democratas, que apesar de contarem com 71 deputados – em parte fugidos aos conservadores – têm apenas 12,2%. Podemos contar com Farage a fazer todo o ruído possível e a chantagear o eleitorado nos próximos anos. Como o seu parente Ventura cá por estes lados.