Por Olivença, «marchar, marchar»?

Há bastantes anos, conheci um rapaz que durante algum tempo insistiu em que eu me inscrevesse como fiel «Amigo de Olivença». Isto é, que me tornasse militante da causa dos que pretendem repor a soberania portuguesa e alentejana sobre aquela cidade raiana da Estremadura espanhola. Apesar de reconhecer a legitimidade do retorno de um território que, após a assinatura pela Espanha, em 1817, do tratado de Viena, esta reconheceu como português, não me pareceu causa sequer longinquamente prioritária, pelo que recusei aquela aproximação, passando até a referir privadamente o episódio como piada.

Em consequência, o referido cidadão nunca mais me dirigiu a palavra. Na sua cabeça, e provavelmente nas cabeças dos seus correligionários que souberam do caso, eu ter-me-ia transformado num «Miguel de Vasconcelos», mísero e indesculpável traidor à Pátria. Nuno Melo, o ministro da Defesa, do CDS, veio ontem, durante uma cerimónia militar em Estremoz, dar força a esta reivindicação tão justa quanto anacrónica. Obviamente, não na esperança de nos fazer «marchar, marchar» contra os canhões castelhanos, mas para retirar dividendos políticos do demónio nacionalista que tantos de nós transportamos na alma.

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