A mais bela idade e a lição de Nizan

Em murais do Facebook, como lugares onde tantas vezes se exprimem de uma forma bastante livre, e muitas vezes sincera, gostos próprios, sentimentos pessoais ou notas de teor autobiográfico, encontro muitas referências ao caráter «maravilhoso» e único da época que correspondeu essencialmente aos anos de juventude de quem o exprime. Na boca destas pessoas, consoante a idade, os anos cinquenta foram fantásticos, os sessenta incríveis, os setenta formidáveis, os oitenta espetaculares, os noventa soberbos, mas cada um deles «único». A mim, que passei por eles todos e de todos retenho memórias boas, outras más e quase todas razoavelmente complexas, não vejo nada de tão absoluto, parecendo-me esse limitado foco bastante redutor e tantas vezes falso.

Talvez ser historiador ajude um pouco a moderar afirmações dessa natureza. O que se passa, para que elas ocorram, é que quem o faz se reporta a uma fase da vida em que foi mais jovem, ousada e enérgica, e nesse tempo marcou, com a ponta de uma navalha, uma ideia de felicidade. Dizia, há dias, uma delas, que naquele tempo, julgado único e que hoje tende a idealizar, «tudo parecia mais fácil». Claro que o era, na medida em que ela teria mais expectativas e também mais coragem, mas não confiemos muito nas armadilhas da nossa própria memória. Como escreveu Paul Nizan em Aden Arabie, o seu romance de estreia saído no distante ano de 1931 – e apenas aos 26, diga-se, que Nizan morreu demasiado novo – «eu tinha vinte anos e não deixarei alguém dizer que foi a mais bela idade da vida».

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