A quem me lê (ou quer escrever)

Em forma de compromisso – e talvez para me envergonhar por não o cumprir como gostaria –, já aqui falei da preparação de um conjunto de ensaios inéditos, em formato de livro, nos quais regressarei aos temas que nos últimos vinte e cinco anos mais me têm interessado e motivado. Já deveria estar pronta há mais de dois anos, embora, como acontece tantas vezes na vida de encruzilhadas que levo, o que é urgente tenha passado à frente do importante. Talvez para o final do ano possa estar pronta a ser impressa. Poderão insultar-me (moderadamente) se isso não acontecer.

Antes disso, preparo uma compilação de crónicas e textos de circunstância escritos sensivelmente nesse mesmo período, que deverá sair antes do verão. Serão duas centenas, entre os mais de cinco milhares que tenho escrito, publicado e arquivado. O confronto com esta quantidade absurda de textos tem revelado sinais curiosos. Um deles é a forma como muitos, apesar de na altura da escrita tanto me terem mobilizado, perderam, entretanto, o seu interesse. Outro revela-se no sentido inverso: alguns dos que na altura me pareceram apenas razoáveis, mostram agora um fulgor oculto.

Pelo meio, sempre, e sempre, o prazer de escrever e de comunicar. Também a convicção de que a aprendizagem e o apuramento da escrita passam por praticá-la sem parar. Afinal, como professor, e ao contrário de outros que diziam aos seus alunos que «tenham muito cuidado com o que escrevem», sempre recomendei aos meus o oposto.  Que quem quisesse escrever bem e para os outros começasse por escrever muito, todos os dias… ainda que por vezes menos bem. Lembrando-os que com medo de o fazerem perderiam o jeito e morreriam em silêncio.

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