Boicotar ou não produtos «made in USA»

É fácil cairmos na tentação de reagir ao que de hediondo, agressivo, contagiante e muito perigoso está a acontecer nos Estados Unidos e com a política interna e externa centrada nos corredores da Casa Branca e do Pentágono, procurando, na medida do que cada um de nós poderá isoladamente fazer, entrar pela via do boicote cego a produtos e instrumentos «made in USA». Na realidade, é tão grande a sua dimensão e influência que, se fossemos inteiramente coerentes – ou coerentes mesmo a apenas 25% –, até muitos alimentos, medicamentos, tecnologia essencial, produtos de natureza cultural, serviços de «streaming» e da Internet teríamos de abandonar e apagar das nossas vidas.

A alternativa será sempre usar este tempo para que começarmos a ficar menos dependentes desses produtos, mas o processo será demorado e difícil. Até lá, não parece boa política agir cegamente e acabar por piorar a nossa qualidade de vida, deixando até o campo livre para o discurso demagógico de Trump, Musk e companhia. Um eventual boicote deve ser coordenado pelos Estados democráticos, em particular os europeus, e agindo sobre produtos criteriosamente escolhidos, que doam aos magnatas do outro lado do Atlântico, mas não prejudiquem a qualidade de vida dos povos, incluindo o norte-americano. É claro que o tema exige uma argumentação bem mais completa que a deste curtíssimo apontamento.

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