As legislativas de Maio e a Europa

Escreve a dado passo da sua crónica deste domingo, saída no diário Público, a jornalista Teresa de Sousa:

«(…) Em dois meses, a Europa viu desfazerem-se diante dos seus olhos as condições geopolíticas que lhe permitiram viver e prosperar em paz e alargar a democracia em direcção às fronteiras do continente, caminhando paulatinamente para uma união cada vez mais integrada. Está a viver hoje a maior crise existencial desde a sua fundação. O que é mais extraordinário é que conseguiu afastar o cenário provável da fragmentação e da autodestruição, antecipado em Washington e em Moscovo. Dois meses depois, perdeu todas as ilusões sobre a possibilidade de reparação da aliança transatlântica, colocou a sua própria defesa no topo da agenda política, abriu-se a novos aliados, manteve-se no apoio à Ucrânia em caso do abandono americano (“26 mais um não são uma divisão”, como disse António Costa). O pânico inicial transformou-se em maior claridade política. Descobriu que era mais forte do que se habituara a pensar. (…)»

Eis um problema real e muito poderoso no qual todos estamos envolvidos. Todavia, temo que ele irá estar tão ausente quanto o possível na campanha eleitoral para as legislativas de Maio. Os grandes partidos institucionais do centro-esquerda e centro-direita porque temem atemorizar os seus possíveis eleitores. Uma boa parte da esquerda à esquerda do PS porque continua a eleger a União Europeia essencialmente como inimiga. A extrema-direita porque quer impor a agenda nacionalista e xenófoba que atrai o seu eleitorado. Irá falar-se muito pouco sobre o problema global associado à vida próxima futura da Europa democrática, no qual estamos e estaremos submersos até ao pescoço. Se me enganar, tanto melhor, mas temo que isto não acontecerá.

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