Por certo muitos amigos terão reparado já nesta tendência, enquanto outros, mais distraídos ou desinteressados, não se terão apercebido. Está em pleno curso, em alguns jornais e televisões, a divulgação de opiniões, emitidas por vozes situadas na ala mais conservadora do Partido Socialista, no sentido de, em nome de uma vaga e sacralizada noção de «estabilidade» – e, sejamos claros, também de um desejo de partilha de influência -, sugerirem a realização pós-legislativas de um acordo legislativo e de governo entre o PS e o PSD.
Algumas não o fazem devido apenas às atuais circunstâncias políticas internas e internacionais, pois já o defendiam antes ainda da experiência de António Costa e da «Geringonça». Ao propô-lo, desarmam a esquerda, a começar pelo seu próprio partido, de um discurso mobilizador e corajoso, capaz de fugir às armadilhas da direita. Não devemos ignorá-los, mas não podem ser seguidos por quem tem o dever de impedir que retornemos ao pântano do «estável» Bloco Central, que por décadas afastou Portugal de políticas decididamente corajosas, mobilizadoras e progressistas.