Jamais possuiu corpo físico, dado ter preenchido a sua inusitada vida como herói dos romances de Maurice Lablanc (1864-1941). Mas Arsène Lupin, fora-da-lei com lugar cativo nos camarotes da Opéra, na Wagons-Lits ou nos melhores hotéis de Paris, Londres e Veneza, teve uma existência intensa. Elegante e sedutor, adepto do vegetarianismo (e no princípio do século passado!), dos banhos turcos e dos pijamas em seda, amigo de Diaghilev, Poincaré e Caruso, evidenciou sempre um sentido de humor que associava sem peso ou medida ao lado pueril que tem sempre o desafio. A inteligência, a destreza e a coragem, essas usava-as para perturbar a ordem da distribuição da propriedade, espoliando os ricos para ajudar aqueles que considerava «perseguidos e inocentes». Tem, por isso, um lugar reservado no estranho panteão dos anarquistas aristocráticos. E também por isso conquistou vida própria.