Deixei de frequentar «cerimónias comemorativas» de Abril. Sessões de reprise, quase sempre organizadas por pessoas com saudades de si próprias ou por autarcas com escassez de imaginação. Transformadas tantas vezes em dever. Repetindo, ano após ano, as mesmas palavras de ordem, as mesmas canções, as mesmas histórias, o mesmo cravo vermelho ao peito «que a todos fica bem». Sempre o que se me afigura uma idêntica, pesada e opressiva nostalgia. Aborrecem-me, admito. Aborrecem-me quase tanto quanto aborrecem a generalidade dos portugueses normais com menos de quarenta e oito anos. Transferi pois o 25 de Abril para a memória-cache, como parte central da minha vida e como âncora da memória colectiva que partilho. Como uma dobra, separando o que ficou para trás – a desigualdade como princípio, a vida triste, a fealdade no poder, o medo persistente como a caspa – de tudo aquilo que ali mesmo começou. Um campo aberto a sucessivos trilhos, a mil e uma quimeras, a todos os desígnios e precipícios possíveis e impossíveis. Mesmo aos piores. Prefiro por isso falar do 24. E de como a vida a 26 se tornou infinitamente mais trepidante, mais bela, melhor apesar de tudo. Graças a um 25 inesquecível para quem o viveu.
PS1 (a 25) – Estou a tornar-me repetitivo, eu sei.
PS2 (a 26) – Cruzo este post com este outro que escreveu Luís Januário.