A Gronelândia é uma ilha de elevado valor estratégico, com riquezas naturais imensas – jazidas de zinco, chumbo, ferro, ouro, platina e urânio, pelo menos – por debaixo de uma superfície gelada que derrete todos os dias, e como em mais lado algum, sob a pressão do aquecimento global do planeta. Apesar de escassamente povoado pelos seus 57.000 habitantes, dos quais 50.000 são inuit, e de um clima quase sempre rigoroso, completamente inóspito a norte, estima-se que em breve, com o recuo do gelo, as condições de habitabilidade aumentem consideravelmente. O que coloca no horizonte dos habitantes da ilha, agora a caminho da independência total da administração dinamarquesa, um futuro interessante.
Entretanto, as eleições neste momento a decorrer devem levar ao poder o Inuit Ataqatigiit. Uma sondagem da Universidade de Nuuk, a capital da ilha, aponta para que o partido social-democrata, no poder há 30 anos, seja derrubado, ganhando claramente as eleições um movimento político que a generalidade dos observadores classifica como de extrema-esquerda. O emblema do partido, aliás, apenas enganará os mais distraídos. Vai pois ser interessante observar, num país sem classe operária ou campesinato, com elevadas potencialidades em termos de crescimento e a uma distância relativamente pequena do Canadá e dos EUA, a emergência de uma dinâmica assumidamente anticapitalista. Este século XXI está com alguma piada.