Garoto / Garota
Fora de alguns universos peculiares, «garoto» já não é nome que se aponha a alguém. Impõe uma depreciação da infância e da condição juvenil, totalmente deslocada nos tempos que correm. Por sua vez, «garotada» é um termo desdenhoso, invariavelmente associado a uma imaturidade que se presume condenável, socialmente desclassificada, tendo caído igualmente em desuso. O oposto do «garoto», ou, bem pior, do «garotão», era o homem «grave», sério, circunspecto, o cidadão inequivocamente adulto, probo e hirto, que jamais condescendia com a brincadeira, usava sandálias sem meias ou enrolava as mangas da camisa acima do cotovelo. «Garotice» era assim, sempre, o gesto inconsequente e irreflectido de quem jamais crescera. Já a designação «garota» não depreciava. Pelo contrário, impunha, por uma ordem lógica antiga e patriarcal, que toda a mulher jovem fosse considerada como uma desprotegida criança, ragazza, petite fille, fräulein, baby aguardando pacientemente, e um tanto irreflectidamente, pelo seu amo. «Garota» era assim a «miúda», a «pequena», a namorada bela e perfeita, vislumbrada a requebrar ao sol de uma qualquer Ipanema. Ninfa que jamais perdia o seu tempo com garotos.