A gaffe cometida por Cavaco ao referir-se ao 10 de Junho como «dia da Raça» não é mais do que isso: uma gaffe. Podemos entender, e provavelmente bem, que ela provém do lado mais obscuro da consciência atavicamente conformista desse português-padrão – capaz de conviver em paz com os valores e as palavras de ordem do antigo regime – que Cavaco foi na sua juventude. Podemos considerá-la, talvez igualmente bem, o resultado de um momento de descontracção, ou de irritação, no qual o PR baixou um pouco as guardas do cuidado político. Tratou-se de uma gaffe, de facto, caricata com todas as gaffes e que pode servir de motivo para alguma chacota. Agora falar gravemente do assunto e «pedir esclarecimentos» sobre o fundamento político de uma gaffe, como o fizeram o PCP e o Bloco de Esquerda, é algo da ordem do ridículo. Pior só mesmo o júbilo de alguma direita, que levou igualmente a sério as palavras disparatadas do presidente.