Quando será que um certo feminismo, como uma determinada esquerda, aceitarão que a luta social não tem necessariamente de ser sempre sisuda, monástica, zangada e maniqueísta? E que vivemos num mundo muito mais desordenado – e polissémico, se quiserem utilizar o chavão – do que o era o mundo de há trinta ou quarenta anos atrás? E que sátira e ironia nem são a mesma coisa nem cumprem idêntica função? A consideração devida a pessoas com o passado de Maria Teresa Horta não pode ser desculpa para aceitarmos posições como aquela que aqui se refere (link recolhido deste post da Maria João), e que se voltam até contra a causa que pretendem defender. Além de que aceitar que algo possa ser imune ao riso é pactuar com a limitação das liberdades. E é dar um pouquito de razão aqueles que têm uma grande vontade de enviar rapidamente para o mais fundo dos infernos o caricaturista holandês que brincou com o turbante do Profeta. Lembram-se das últimas cenas de La Vita è Bella, de Begnini?
P.S. em 24/11/2008: Teresa Horta repete hoje, em carta do leitor no Público, o mesmo tipo de argumento. Está no seu direito de o fazer, evidentemente, mas é pena não ter percebido. Lembrar-se-á ainda da Mosca do Diário de Lisboa, nos inícios da década de 1970? Ou será que já na época lhe não achava graça?