Casa Grande e Sa(e)nzala

É provável que alguém ainda hoje encontre glamour na história da gata borralheira. Pessoas que vivem de romantizar o passado, leitores da Hola ou da Nova Gente, candidatos a uma promoção social rápida através de concursos televisivos ou figuração em novelas. Olhar o comércio das relações como via possível para uma vida melhor ou alguns minutos de fama. Mas encontro uma infinita tristeza no testemunho transcrito hoje pela revista Pública em artigo sobre o parque termal do Vidago. Corriam os anos 40, recorda uma então jovem frequentadora das pensões «mais em conta» da localidade: «Quando havia bailes no Palace não podíamos entrar, mas nós trazíamos toilettes, vestido comprido, salto alto, e os rapazes vinham todos do Palace para a nossa beira e dançávamos à volta do lago.» Predadores descendo as escadaria do hotel disfarçados de príncipes encantados. A desigualdade como normalidade. Era isto também o salazarismo e a vida na província.

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