Este é um retrato quase íntimo, como um close-up, da vida e da obra de Walter Benjamin. Conhecem-se os livros publicados em vida – apenas quatro monografias, uma colectânea de cartas, traduções avulsas para o alemão de Proust, Balzac e Baudelaire – suficientemente frequentados e glosados, mas o berlinense deixou outros indícios. São alguns destes – pequenos ensaios e notas de leitura redigidos para jornais, revistas literárias e publicações académicas, transcrições parciais de alguns dos 90 programas de rádio que realizou, cartas e memórias deixadas por muitos daqueles com quem cruzou os passos – que Esther Leslie aproveitou de forma inédita para seguir de perto o seu trajecto invulgar.
Pequenos trechos, ténues pistas, anotações casuais que permitem seguir Walter no seu extravagante amor por brinquedos, pelos livros infantis, por barcos e viagens, por mulheres impossíveis. Entre os contactos com a Escola de Frankfurt, as ligações que manteve com Adorno, Scholem e Brecht, e as constantes deambulações pela Europa, redescobre-se a genealogia quase diletante dos seus escritos mais conhecidos, os fundamentos do limitado impacto que à época detiveram, bem como os contornos de uma vida privada quase sempre instável, dependente, atormentada. Ao mesmo tempo, recontextualiza-se o interesse multifacetado e fragmentário pela estética da tecnologia, pela cultura urbana, pelo peso das ruínas ou pela teoria marxista, reconhecendo em Benjamin alguém que viveu fundamentalmente, quase sempre, para o/através do relacionamento com os outros. Replicando em contínuo, à maneira de um blogger, aos estímulos e às recusas que se aproximavam. [Esther Leslie, Walter Benjamin. Trad. de Rui Mesquita. Fio da Palavra, 268 págs.]