Publicado originalmente em Caminhos da Memória
O número de Julho-Agosto do Magazine Littéraire transporta consigo, para além de um notável dossiê sobre as conexões entre humor e literatura, a reprodução de uma conversa – «L’Histoire, victime de la mémoire?» – entre o académico Pierre Nora, actual director da revista Débat e autor do incontornável Les Lieux de la Mémoire, e Élie Barnavi, professor da universidade de Tel Aviv e conselheiro científico do Museu da Europa, em Bruxelas. Mais do que a exposição de duas formas absolutamente opostas de olhar a relação entre memória e história, ela serve para ajudar a desmistificar a ideia segundo a qual esta última é um saber frio e unívoco, do qual os valores da subjectividade e da cidadania se devem manter desejavelmente afastados.
Traduzindo os destaques (que sugerem muito bem o tom de toda a conversa a duas vozes):
Barnavi: «A História tem sido notificada para se colocar ao serviço da memória. Esta apropriação da História parece-me uma das características mais graves da nossa época.»
Nora: «O tempo no qual os positivistas conservavam à distância a história contemporânea parece hoje completamente ultrapassado. Fazer História é fazer história contemporânea.»
Barnavi: «Um dos males que corrói a nossa época é a confusão de papéis entre o historiador e o ideólogo.»
Nora: «A memória incorpora doravante uma reivindicação particularista, subjectiva e peremptória, quando não é terrorista.»
Um debate que é para (e que deve) continuar.