Bibliocausto

Queimar

Fernando Báez, especialista venezuelano em história das bibliotecas, esteve em 2003 no Iraque para investigar os danos causados no património cultural do país pela Segunda Guerra do Golfo. Foi aí, confrontado com a destruição sistemática e o saque incontrolável de obras de arte e de livros, que decidiu escrever esta História Universal. Desde a Suméria até à Bagdad actual, da antiguidade grega ao universo islâmico, dos códices pré-colombinos atirados ao fogo na época colonial ao bibliocausto organizado pelos nazis e às actuais disposições censórias vividas na China ou em Cuba – onde ocorre mesmo um «discurso duplo» sobre a conservação e as purgas culturais que a contradizem –, a ruína do livro tem sido sempre feita em nome de dispositivos de poder que nele vêm «objectos de memória» capazes de funcionarem como entraves ao triunfo e à afirmação de uma ordem nova e dominadora. Com uma dimensão enciclopédica, este estudo de Báez não deixa de fora processos utilizados por alguns regimes democráticos contemporâneos, nos quais o trabalho de corte e apagamento recorre a métodos mais insidiosos. Apenas lhe escapa o processo de devastação, não menos aniquilador, que hoje se estende já ao digital. [Fernando Báez, História Universal da Destruição dos Livros. Trad. de Maria da Luz Veloso. Texto, 448 págs.]

    Democracia, História.