Como se tem percebido no decorrer dos debates, ou da vozearia, sobre a actual crise no Médio-Oriente, é difícil, e eventualmente pouco popular, tomar posições complexas. Mario Vargas Llosa, que, neste como em outros assuntos, as toma frequentes vezes, comenta hoje no suplemento 6a, do Diário de Notícias, as dificuldades pelas quais tem passado. Pelos mesmíssimos motivos, foi por uns acusado de «comunista», «ultra-esquerdista», «castrista», «outro Saramago», «anti-semita», enquanto, a partir de diferente barricada, o consideravam «neo-conservador», «ultra-liberal», «pró-americano» ou, como diz ele, «outras lindezas do mesmo estilo». Toda a sua crónica de hoje é sobre a difícil condição do que não vê apenas para um dos lados. Como não está disponível online, aqui vai um fragmento:
«A abolição dos matizes facilita muito as coisas na hora de julgar um ser humano, analisar uma situação política, um problema social, um acto de cultura, e permite dar livre curso às filiações e às fobias pessoais sem censuras e sem o menor remorso. Mas é, também, a melhor maneira de substituir as ideias pelos estereótipos, o conhecimento racional pela paixão e pelo instinto de malentender tragicamente o mundo em que vivemos. Há certos conflitos que, pela violência e pelos antagonismos que suscitam, levam quase irresistivelmente aqueles que os vivem ou seguem de perto a liquidar os matizes a fim de promover melhor as suas teses e, sobretudo, desbaratar as dos seus adversários.»