A passagem dos vinte anos sobre a queda do Muro de Berlim e o colapso brusco do comunismo na Europa Central e do Leste tem servido de pretexto para a divulgação de um volume impressionante de informações muito diferentes – e de diferente valia, naturalmente – sobre esse mundo que se esvaiu, que vão do testemunho de quem viveu directamente os seus episódios finais às análises de quem se serve deles para a crítica ou para a apologia das experiências do «socialismo real». A verdade é que até há pouco os ecos que chegavam ao Ocidente desse universo passado que a propaganda da Guerra Fria havia tornado particularmente estranho continuaram a limitar-se, quase exclusivamente, ao testemunho dos viajantes ocasionais e dos dissidentes de longa data que haviam sido marginalizados e perseguidos pelo sistema.
Só muito recentemente os relatos sobre o quotidiano da vida do outro lado da Cortina de Ferro começaram então a circular de forma sistemática, e O Mundo Perdido do Comunismo, do jornalista e produtor britânico Peter Molloy, representa um bom exemplo deste novo padrão de informação. O livro reúne depoimentos únicos de pessoas, comuns ou não, anónimas ou notáveis, adversárias ou próximas do poder, que viveram muitos anos na Alemanha Oriental, na Checoslováquia e na Roménia, e que relatam vidas padronizadas, mostrando como os três regimes, distintos sob certos aspectos mas idênticos na essência, se comportavam em relação aos que perseguia mas também àqueles que consideravam dos seus. Evocando humores, preocupações e experiências muito concretas, e com rosto, de um tempo que se perdeu.
[O Mundo Perdido do Comunismo. História do Quotidiano do Outro Lado da Cortina de Ferro. Trad. de Maria Filomena Duarte. Bertrand Editora, 280 págs.]