Passou por mim um autocarro dos transportes públicos chamando a atenção dos passantes para o «perímetro medieval» da urbe. Uma linha a branco sobre a chapa traçava os contornos do antigo e inexistente castelo, sublinhando a imagem de um património desenhado por dentro das cabeças. Afinal, tirando a velha porta de Almedina e meia dúzia de pedras perdidas na Couraça de Lisboa, já não existem muralhas, torreões, cubelos. Nem a poeira deles. Quase nada para além de algumas casas oitocentistas, de portas a ranger, alguns edifícios religiosos, pedras exaustas, as luzes e as paredes da universidade antiga. Dão-se porém alguns prospectos aos turistas e a estudantes do sétimo bê e eles crêem-se felizes a circular por entre almocreves, bufarinheiros e artesãos, camponesas, frades e mendigos. Resvalando pelo tempo, como num filme.