Creio ter hoje, para português, uma estatura normal. Porém, o 1,78m que mantenho desde os 15 anos, agora quase banal, correspondia há poucas décadas a um padrão acima da média. No início dos anos 80 ainda era considerado um sujeito alto e recordo-me perfeitamente de andar na rua e de me distinguir pelo tamanho. Ou de comprar calças sem precisar de subir a bainha. Mas o panorama tem mudado muito. Os números não enganam: se em 2000 os portugueses continuavam a ser os mais baixos da Europa, com uma média de 1,72, a altura média dos espanhóis já só nos ultrapassava em 2 milímetros, a dos franceses em 3 e a dos suecos em 7. Apenas os holandeses se destacavam claramente dos outros habitantes da União Europeia com 1,84. A verdade é que entre 1904 e 2000 os portugueses cresceram em média 9 centímetros, com uma aceleração notável a partir dos anos 60 e do 25 de Abril, quando as condições de saúde, de higiene e de alimentação melhoraram rápida e substancialmente. Presumo que nestes últimos oito anos, apesar de tudo, a paisagem ainda tenha melhorado um pouco mais.
Isto a propósito do estudo europeu ProChildren, concluído em 2007 e cujos resultados vieram há dias publicados nos jornais. O Público de sábado passado destacava mesmo a matéria com chamada na capa e um dossiê nas páginas 2 e 3. Deixando de parte os dados sobre o peso que também eram referidos, cinjo-me aqueles que diziam respeito à altura e constato ali a afirmação algo espalhafatosa de que as crianças portuguesas são «as mais pequenas da Europa». Uma leitura atenta do artigo tempera, no entanto, uma frase tão peremptória e deprimente. Desde logo um dado essencial: o referido estudo apoiava-se em observações feitas em apenas 9 países, e destes apenas Portugal e a Espanha pertenciam ao espaço mediterrânico, no qual, historicamente, se concentram desde há séculos populações de menor estatura. Vejam-se agora os números, estabelecidos para crianças de 11 anos: 1,47 em Portugal e na Áustria, 1,48 em Espanha e na Islândia, 1,49 na Bélgica e na Noruega, 1,50 na Suécia e na Bélgica, destacando-se uma vez mais os gigantes holandeses com 1,54. Diante de tais dados, que apenas atestam o facilitismo de um certo modelo de jornalismo e o sentimento de auto-comiseração que ainda continua a dominar muitos de nós, resta perguntar se fica implícita algures a proposta subliminar de uma manipulação genética em larga escala. Já agora, podíamos aproveitar a mão e fazer-nos a todos loiros e de olhos azuis, como nos anúncios da televisão.