«O antiamericanismo só acaba com novo presidente.» A frase foi pronunciada por Bill Emmott, antigo director do The Economist, em entrevista que a Visão publica hoje. A afirmação pode ser lida de três formas que se não sobrepõem necessariamente. A primeira é como boutade, antigo costume de privilegiados, transformado em hábito neste tempo de verdade tão fugazes que o quer que se diga tem sempre o álibi de ter sido dito num contexto que a seguinte realidade torna incompreensível. A segunda será mais linear: Emmott deixa implícito que o relacionamento formal dos EUA com a União Europeia e a generalidade do mundo, neste momento tão frágil nas expectativas, poderá mudar se uma figura mais cordial e inteligente puder ajudar a demolir o estado de exasperação a que conduziu – ele não diz isto, mas fica implícito – o convívio com o rústico George e a repulsiva madame Condoleezza.
A terceira forma reporta-se, porém, a um problema que se não pode resolver com um simples delete. A América, pelo que representa na ordem mundial, pelo lugar ainda ocupado pela poderosa máquina industrial, financeira e militar de que dispõe, pela agressividade da sua elite dirigente – mas também, e muito, pela intervenção da história de intervenções estúpidas e desastradas – permanecerá, por muito tempo, com lugar reservado enquanto Grande Satã. Do qual continuam a precisar – para usar uma frase vulgar e certeira, «como de pão para a boca» – os todos os maniqueus da religião e da política. Como se sabe, estes carecem sempre de um inimigo sólido, capaz de ampliar as suas capacidades, de camuflar as suas hesitações, e, acima de tudo, de desenhar uma luta essencialmente comum. Da frente antiamericana não se esperam assim grandes novidades: seja qual for o rosto do momento na peanha da Casa Branca, o comum objecto de ódio jamais aceitará humilhar-se. E o impasse irá servindo a uns e aos outros.