Fé e partilha

A tolerância, escreveu João Maria André em Pensamento e Afectividade, «é, evidentemente, o contrário da atitude fundamentalista e do seu projecto societal, mas pode ser, ao mesmo tempo, o espaço em que o fundamentalismo desabroche para aniquilar todas as formas de tolerância». Daqui se pode inferir que a aceitação, em nome de uma ideia de tolerância, de tudo, de todos os dogmas, de todas as fés, de todas as formas de legitimação da guerra ou da paz, apenas faz sentido se assentar em valores e experiências partilhados pelos partidários de todos esses dogmas, de todas essas fés, de todas essas formas de legitimação da guerra ou da paz. Isto é, só devemos aceitar a dissemelhança naquilo em que ela não colida com a própria noção de tolerância. Esta exprime uma firme disposição para admitir uma maneira de ser e de agir distinta da nossa, mas exclui a aceitação como única dessa maneira de ser e de agir que é distinta da nossa. É esta, em boa medida, a filosofia que preside à magnífica e corajosa intervenção de Barack Obama sobre religião e secularismo, pronunciada há perto de dois anos, que aqui se reproduz.

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