Levanta-me uma dúvida a edição pelo Público, a partir de amanhã, de um conjunto de 10 DVD que recordam os 80 anos sobre o nascimento da «eterna jovem e bela Marylin Monroe». Será que a mais famosa falsa loira da história gera ainda o avassalador efeito erótico que produziu na época de O Pecado Mora ao Lado, de Os Homens Preferem as Loiras, ou mesmo de Misfits (que não integra esta colecção)? Sucessivas gerações de homens e de mulheres reconheceram nela um ideal de sensualidade, ou mesmo de ousadia sexual, no limiar – «poo poo pidoo!» – do que era então possível situar entre o publicamente aceitável (para as famílias que iam ao cinema) e o intimamente perturbador (nas capas de revistas para cinéfilos). Apenas comparável ao furor que, num sentido menos clássico, logo de seguida despertou Brigitte Bardot. Sei que em sociedades onde vigora uma ética religiosa muito estrita e o corpo feminino deve mostrar-se velado e submisso, Marylin continua a patrocinar sonhos muito quentes e húmidos. Passar-se-á o mesmo no nosso mundo de modelos anoréxicas, enfeites sado-maso e corpos andróginos? Aposto que o nível etário dos coleccionadores dos DVD do jornal da Sonae vai integrar maioritariamente homens, supostamente heterosexuais e com mais de sessenta anos. Mas gostaria muito de me enganar.