Gosto da palavra camarada. Muito. E por isso me perturba vê-la abusada, banalizada. Como sílaba de um mantra. Como amparo desabrido de liturgias vãs. De futuros baços e autobloqueados. Já serviu a iniquidade, a opressão, a força bruta, a ordem exacta dos lugares sombrios. Já serviu o Mal. Mas também a solidariedade, a compaixão, a revolta e a esperança. Principalmente a esperança. Gosto de a ouvir na rua que é onde ela deve permanecer. Não em templates de comunicados de imprensa, orações de circunstância, missivas impessoais ou ordens de serviço. Gosto dela sem maiúscula. Rara e clandestina. Murmurada ou manifesta. Na rua, de onde jamais deveria ter saído.
Camarade [I]
TOCAR
Camarade [II]
TOCAR