Não é nada saudável viver uma realidade que do passado apenas recolhe as referências mais assépticas e manipuláveis. Aquelas capazes de ilustrarem consensuais mitos fundadores, ou então de servirem de mote para actividades que qualquer autarquia gosta de apoiar para relevar o património, assim relevando também a sua própria existência. Ou ainda, como acontece tantas vezes, para incentivar o espírito de paróquia. A importante intervenção do movimento cívico «Não Apaguem a Memória!» contraria esta tendência, chamando a atenção para um lastro de combate e de resistência que marcou o nosso passado recente e sem o qual, muito provavelmente, não conheceríamos há mais de trinta anos esta democracia incompleta mas benévola. Um passado que uma geração mais recente de políticos dos mais diversos escalões, e outros mediadores de opinião consciente ou inconscientemente «desmemoriados», tem feito por esquecer. Como se nada lhe devesse. Não parece saudável, porém, reduzir essa luta pela preservação da memória aos espaços, aos eventos ou às pessoas que lhe foram definindo as matrizes dominantes, deixando de lado aqueles, malditos ou minoritários, que à esquerda ou à direita têm permanecido omissos dentro das diversas «histórias oficiais». O que José Pacheco Pereira (de novo) relembrou hoje no Público.