Um artigo de opinião que saiu no Público, assinado por Pedro Vaz Patto, desenvolve mais uns quantos parágrafos em apoio da grande cruzada da direita católica contra a legitimação das uniões entre pessoas do mesmo sexo. Não vale a pena perder muito tempo com o essencial da argumentação, uma vez que esta apenas retoma os conhecidos clichés a propósito da impossibilidade, em tais uniões, de se consumar uma preconceituosa «função social do casamento» assente na actividade reprodutora do par. Este raciocínio primário já o ouvimos alto e em bom som pelo menos desde os idos de 1982, dando então lugar à memorável altercação de Natália Correia(*) com o deputado centrista João Morgado.
Mas aquilo que é particularmente grave neste artigo é que o seu autor avança numa direcção menos usual e que é inadmissível na boca de um jurista. Acontece «apenas» que ele deixa implícita, na forma ligeira como se refere ao assunto, a menoridade social e jurídica daquilo a que chama o «casamento de casais estéreis». Na sua cabeça claramente confinado a uns desventurados que devem ser olhados como pessoas incompletas. E deixa obviamente de parte a possibilidade da existência – sabe-se hoje cada vez mais presente na nossa vida colectiva – de uns quantos depravados que não têm filhos por lhes ser impossível educarem de forma estável uma criança ou simplesmente por opção de vida. A desumanidade destas pessoas de credo na boca é apenas brutal.
(*) Lateralmente mas a propósito: que jeito nos dariam hoje uns quantos deputados menos pusilânimes, assim da têmpera da Dona Natália!