Sobre os comentários (ou a sua ausência)

A dilatação do universo dos blogues e do seu grau de centralidade na expressão pública de opiniões tem entrado muitas vezes em conflito com o funcionamento das caixas de comentários. Aquilo que num contexto mais restrito era nestas, até há pouco, a excepção, transformou-se entretanto na norma, passando a ouvir-se cada vez mais vozes de quem dispõe de tempo e estrutura mental para, em vez de debater com franqueza e abertura, investir no questionamento ou na parasitagem das escolhas dos outros, na agressividade e até na dissimulação. A expansão do proselitismo no meio apenas tem agravado a situação. Quando alimentado, este ambiente torna-se incómodo para muitas pessoas, desviando leitores e descredibilizando certos blogues. No meu caso tornando por vezes difícil de gerir aquilo que antevia apenas como um prazer e mais uma via para comunicar informalmente com os outros.

O facto de ter sido quase um dos pioneiros da Internet em Portugal, ligado a espaços de debate muitos anos antes de existirem blogues, não deixou de guiar a minha tentativa de contornar esta situação através de duas suspensões periódicas, e, mais recentemente, do recurso a algumas regras que durante certo tempo foram servindo. Mas como elas já não são suficientes, e eu pretendo continuar a frequentar estas paragens sem consumir grandes energias, em A Terceira Noite os comentários foram encerrados. Não se tratou de uma decisão precipitada ou motivada por alguma conversa recente, mas sim de uma vontade que vinha amadurecendo há largos meses. Conservaram-se os comentários existentes, pelo respeito que merecem aqueles e aquelas que dando a cara e o nome se foram servindo deles. Afinal, quem me segue aqui apenas terá de fazer aquilo que faz habitualmente com um jornal: lê e opina para si e para os seus, ou escreve ao autor, ou cita o que achar pertinente, ou abre um blogue para falar daquilo que lê ou do que lhe possa passar pela mente. O endereço de e-mail d’A Terceira Noite estará sempre aberto. E o meu, mais pessoal, é facílimo de obter. Em frente.

    Oficina.