Schopenhauer, 1788–1860 (A Arte de Ser Feliz)
«A nossa felicidade depende sempre daquilo que somos, da nossa individualidade, embora, na maioria das vezes, não tomemos em linha de conta senão o nosso destino e aquilo que possuímos. O destino pode ir-se melhorando, e a frugalidade não reclama dele grande coisa: mas um idiota não deixa de ser um idiota e um indivíduo grosseiro permanece sempre um indivíduo grosseiro, ainda que se veja rodeado de belas mulheres. Eis o motivo pelo qual, segundo Goethe, “a felicidade suprema é a personalidade”.
Para falar com propriedade, aquilo que para ele é essencial, a verdadeira existência do homem, consiste manifestamente naquilo que acontece no seu interior, e que é o resultado daquilo que ele sente, vê ou pensa. Dentro do mesmo ambiente, cada um vive num mundo à parte, e os mesmos acontecimentos exteriores afectam cada um de maneira particular. A diferença que nasce destas disposições íntimas é maior do que aquela que as circunstâncias exteriores estabelecem entre diferentes seres humanos.
De resto, de maneira imediata, cada um deve preocupar-se principalmente com as suas representações, as suas sensações, a expressão da sua vontade; as coisas exteriores não têm influência senão na medida em que as estimulam. Cada um vive, efectivamente, através das suas disposições íntimas, sendo elas que tornam a sua vida feliz ou infeliz.»
Conclui-se aqui a tradução de alguns dos «Dez Textos Fundamentais da Sabedoria», enunciados no dossier «La Sagesse» publicado no Le Monde des Religions.