Fala-se de novo em regionalização e vale a pena reparar nas tentativas para, aqui ou além, devagar ou mais apressadamente, às claras ou recorrendo a subterfúgios, reerguer aquilo que em referendo, num fugaz assomo de colectiva sageza, a maioria dos portugueses recusou. Porque a regionalização da qual nos falam não é a necessária descentralização, mas sim a criação de novas centralidades regionais. Com a agravante de, num país em estado de óbvia indigência na qualificação política e técnica dos quadros políticos locais, essa eventualidade reforçar os poderes de quem nem para gerir convenientemente uma pequena junta de freguesia – com todo o respeito para com as pequenas juntas de freguesia – possui muitas vezes visão e capacidades. Naquela que se imagina ainda a terceira cidade do país – contando com a concentração urbana e o crescimento demográfico, talvez seja, de forma optimista, a oitava ou a nona – sente-se particularmente esse drama. Há anos, muitos, que uma cidade triste e deprimida como Coimbra – cujo amor-prórpio é apenas ciclicamente reiventado por scholars e estudantes à procura de referências identitárias – se vê gerida de forma autista, kitsch e, num certo sentido, esquizóide. Autista porque, cidade de fortes tradições democráticas e de abertura ao mundo, tem sido governada de forma essencialmente anti-cosmopolita e fora de uma efectiva cultura da participação. Kitsch porque lhe definem constantemente horizontes culturais a partir do mais provinciano mau-gosto. Esquizóide porque a todo o momento lhe indicam a repetição ad infinitum, visível sinal do seu atraso, como prova provada da grandeza do mundo. Seria então com gente responsável por tais desvarios, ou por aquela que preludia outros, na eventualidade com acrescidos poderes, que seguiria avante a regionalização de todos os perigos. Na «cidade dos doutores» como em muitos outros locais mais ou menos plebeus deste país de magnos problemas e tão distraídos cidadãos.