No dia exato em que Nelson Rodrigues, do Recife e do Rio, deveria fazer 100 anos.
«Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo.»
«O homem não nasceu para ser grande. Um mínimo de grandeza já o desumaniza. Por exemplo: um ministro. Não é nada, dirão. Mas o facto de ser ministro já o empalha. É como se ele tivesse algodão por dentro, e não entranhas vivas.»
«Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos bondes que não chegam nunca.»
«Toda a unanimidade é burra.»
«Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.»
«No nosso século, o ‘grande homem’ pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta.»
«Só acredito nas pessoas que ainda se ruborizam.»
«O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo se proclamou vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: ‘Senhoras e senhores, eu sou um canalha’.»
«Sou um obsoleto, um carcomido, porque coloco a questão da liberdade antes do problema do pão.»
«Só os profetas enxergam o óbvio.»