É provável que muitas pessoas o tenham entretanto esquecido e, uma vez que a Queda do Muro aconteceu há já perto de um quarto de século, que muitas outras nunca se tivessem apercebido de tal coisa. No entanto, durante os anos da Guerra Fria, os governos dos países do «socialismo de Estado», autoproclamado «realmente existente», bem como a maioria dos «partidos irmãos» que no resto do planeta os apoiava, sempre mostraram maior empenho na vitória republicana nas eleições para a presidência dos EUA do que interesse no resultado contrário. A lógica era simples: republicanos e democratas eram uma e a mesma coisa, não passando de inimigos «da humanidade progressista e da paz dos povos», e por isso mais valia que vencessem os menos enganadores, os mais assumidamente agressivos e por isso os mais capazes de ajudar a congregar vontades para o combate anti-imperialista. Era a lógica do quanto pior, melhor: um governo americano mais inflexível no domínio interno e mais propenso a aventuras no plano mundial, seria preferível para a vitória planetária do socialismo.
Vale pois a penas reparar agora em como aquela lógica perversa afinal não mudou assim muito: o autocrata Putin declarou já, com significativa antecedência em relação ao momento eleitoral, a sua total disponibilidade para trabalhar com um eventual executivo republicano. E as mesmas forças que começaram a denegrir Obama antes mesmo deste ser eleito para o primeiro mandato, antes mesmo de se enredar em contradições que eram tão previsíveis quanto inevitáveis, permanecem impávidas e serenas perante a campanha agressiva de um Partido Republicano, hoje ainda mais decididamente primário, belicista e antissocial do que o era na época, de triste memória, de George W. Bush e dos seus sinistros conselheiros fundamentalistas cristãos e neoconservadores. Vale a pena pensar nisto e pôr desde já de parte a extravagância da absoluta equidade, deixando correr a ideia segundo a qual, para os Estados Unidos da América e para o nosso mundo, Obama e Romney são, retirando pormenores como o tom de pele e o timbre da voz, gémeos praticamente idênticos e defensores de políticas essencialmente similares. Não são.