Apesar de já ter sido mais usada, a palavra «albanização» continua a fazer o seu curso no vocabulário político ordinário. Originalmente, reportava-se a uma vinculação às características do Estado albanês nos tempos da República Popular, proclamada no final da Segunda Guerra Mundial e governada com pulso de ferro por Enver Hoxha e o seu Partido do Trabalho. O território da Albânia, outrora local de um trânsito, nem sempre pacífico mas ruidoso e constante de povos muito diversos, servira de base de apoio nos Balcãs aos fascistas italianos e depois aos nazis. Expulsos estes, passou, após curto período de conflito civil que levou os comunistas ao poder, a fechar-se completamente ao exterior. Uma situação ampliada a partir de 1948 com a rutura completa com a Jugoslávia, à qual se seguiria, em 1961, o corte de relações com a União Soviética, e depois, em 1978, o distanciamento da China. A «albanização» tomou então dois rostos complementares: exprimiu, por um lado, a dimensão de um «Estado-pária», fechado sobre si próprio e que procurou viver de forma autossuficiente, na ignorância das mudanças que ocorriam à sua volta; e por outro, em consequência desses limites e do caráter totalitário do regime, marcou também a instauração de uma política interna de rígida contenção do desenvolvimento económico, cultural e social e de efetivo limite dos direitos individuais.
Ergueu-se ali então um país-fantasma, imune às transformações comportamentais do pós-Guerra, vivendo numa economia autárcica que por vezes assumia até a forma da troca direta, com os cidadãos as viverem abaixo do limiar da pobreza, sem conforto, bens mínimos de consumo, expectativas de vida e, naturalmente, qualquer sopro de liberdade. Nos anos setenta, alguns grupos marxistas-leninistas-maoistas europeus tentaram ainda, na sua radicalidade, impor esse modelo de pobreza como uma imagem pura de igualitarismo e exemplar moral proletária, no contexto de um socialismo supostamente autêntico. Aqueles dos seus militantes e simpatizantes que, devidamente enquadrados e policiados, ainda puderam fazer, via Paris, uma visita ao país, regressaram confundidos com a tristeza das pessoas, o silêncio das ruas, o percetível eclipse do otimismo. Alguns tentaram justificar o que viram como fatores necessários para a construção de um «bem maior». Outros iniciaram aí, ou reforçaram com essa experiência, o processo de rutura em relação às convicções políticas que até então haviam partilhado. Tudo aquilo parecia aliás, até há pouco tempo, representar uma tendência que fizera a sua época e desde há décadas fora abandonada para sempre. No entanto, quando observamos o modelo de sociedade e o estilo de vida que aqui no nosso quotidiano o governo revanchista está a procurar impor a todo o custo, tão rapidamente quanto em força, deixará de parecer estranho que se vislumbre de novo a sombra de uma certa «albanização». Fazendo de nós um povo triste, de semblante carregado, sem expectativas, com medo do presente e do futuro, forçado a emigrar ou a fechar-se à noite em casa, semelhante àquele com o qual os viajantes das velhas «associações de amizade» se cruzaram, na década de 1970, nas ruas cinzentas e inóspitas de Tirana, Durres ou Shkodra.