As sondagens sobre o sentido de voto nos partidos políticos ou o grau de popularidade dos seus dirigentes são avaliadas consoante os resultados. Quem nas tabelas aparece na mó de baixo declara logo que tais pesquisas possuem «um valor relativo» e no fundo «valem o que valem». Já quem é beneficiado pelos números apressa-se a considerar exprimirem os mesmos «uma tendência que não pode ser ignorada», evidenciando «o estado de espírito do eleitorado». Aquela que acaba de sair, revelando uma inesperada subida de 4 pontos nas intenções de voto no PSD e uma descida dos restantes partidos, ao mesmo tempo que a popularidade do governo continua a cair, deixa muita gente um tanto desconcertada. Afinal o que quer esta populaça bipolar, que se declara vegetariana enquanto deseja um belo bife da vazia? A resposta conhecem-na bem todos aqueles a quem estes resultados desagradam ou perturbam, embora jamais aceitem reconhecê-lo de forma pública e sincera. O evidente, perante tais números, é que um número muito grande de cidadãos não gosta da forma como é governado, mas também não confia nos modos, nos rostos e nas propostas das alternativas mais imediatas à gestão do navio. O Jornal de Notícias titula hoje, a toda a largura do rosto: «Governo É Mau Mas Oposição Não Convence». O Diário de Notícias segue o mesmo caminho: «Governo Continua A Ser Mau, Mas Maioria Não Vê Alternativa». Este é pois – por trás do friso deprimente de Coelhos, Gaspares, Relvas e outros mais de idêntico perfil – o segundo plano do drama no qual afundámos. Alguns chamam-lhe pesadelo. A esperança, a única esperança, reside, como acontece sempre que estamos mergulhados num pesadelo, no facto de o nosso maior desejo ser fugir dele. Ainda que algo de horrível nos tolha as pernas e a língua, há sempre a alternativa de gritar, de estrebuchar. Ou a de nos esforçarmos por intermédio da vontade para procurar uma saída rápida, retornando à realidade.