Estamos em Dezembro e por isso na época em que se abusa do Natal, tantas vezes transformado, embrulhado em insuportáveis clichés, num tempo de hipocrisia ou de um insano consumismo. Atitudes que nada têm a ver com o sentido original do instante fundador do cristianismo e da sua mensagem de paz e humildade. Devem, todavia, evitar-se as generalizações, pois são muitas as almas, crentes ou nem por isso, que nas culturas de raiz fundacional cristã procuram observar a quadra demonstrando um genuíno cuidado para com o seu semelhante próximo ou distante. Para não falar das distantes paragens, ou dos ambientes menos observáveis à luz do dia, nos quais o momento muitas vezes serve o conforto dos fracos ou de minorias silenciadas e oprimidas.
E no entanto muitos são os adeptos de um discurso autocensurado, «correto», que evitam pronunciar sequer a palavra «Natal», substituindo-a por eufemismos como «festas», «quadra» ou outros. Parece-me um processo de automutilação cultural. Sendo homem sem fé, nada me incomoda apresentar a outro, sobretudo se presumir ser alguém crente sincero de uma qualquer religião, ou que com ela conviva numa relação tranquila, os votos de um Bom Natal. Como, noutros momentos ou lugares, apresentaria os de Feliz Hanukkah, de Tranquila Hijra, de Óptima Joya Kane, de Próspero Losar, de Reconfortante Diwali. A assertividade das convicções não reside no policiamento da língua nem se alimenta da fuga ao real social. E o respeito pelo outro passa também pelas palavras que usamos para falar com ele.
Feliz Natal, pois, para quem o viver ou desejar.