Neste domingo, 20, parece que decorrerão eleições legislativas na Grécia. Digo «parece» porque o assunto desapareceu praticamente dos nossos noticiários, dos títulos dos jornais, dos debates, dos murais do Facebook. Sabemos do caráter efémero que hoje tomam todas as novidades, do justo destaque dado à crise dos refugiados e, no caso português, do inevitável desvio dos olhares suscitado pela campanha eleitoral. Mas já custa entender o desinteresse e o silêncio de muitas das pessoas que ainda há menos de dois meses se inflamavam a defender e a explicar a experiência grega protagonizada pelo Syriza.
Sei que é difícil compreender o processo grego e também tenho dificuldade em entendê-lo de uma forma cabal e completa. Percebo bem a hesitação e a confusão de quem depositou toda a esperança numa Grécia tomada como exemplo e farol de um socialismo de rosto humano e mediterrânico, indicador, ou força avançada, de uma Europa dos povos a renascer das cinzas. Também eu, embora moderadamente, fiz o possível por acreditar nessa possibilidade. Toda esta dificuldade, é verdade, se entende e se aceita.
O que é de todo incompreensível, se não mesmo inaceitável – por parte dos comentadores que não admitiam uma só crítica a Tsipras («o Alexis») e se viam mais Varoufakis que Varoufakis («o Yanis») –, não é a legitimidade da crítica: é a absoluta deserção, quanto mais não seja de uma tentativa teórica de compreender o que se passou e de procurar novos caminhos e possibilidades que não passem pela fuga para a frente e pelo isolamento internacional da Grécia e dos gregos. A sua desistência revela falta de coerência e de coragem para pensar para além das proclamações de fé. Como confiar então neles quando abordam a nossa própria realidade?
Embora cético em relação ao futuro imediato, claro que espero muito uma nova vitória do Syriza. Desta vez bem mais difícil de conseguir e menos promissora de um sinal quilométrico do paraíso na Terra que a primeira. Mas tudo o que é difícil, custa obter, como diria Jacques de Chabannes, o Senhor de La Palice. Só que no final é sempre mais saboroso. E mais durável também.