Não sendo mais-que-perfeito, tenho uma a atitude social que considero positiva. De início, provavelmente por atavismo. Depois por educação, escolha política e motivos de natureza ética. Consiste em tratar os outros sempre da mesma forma, independentemente da sua condição social ou lugar profissional. Tratar o rico e o pobre, o presidente da junta e o varredor, o general e o soldado, homens e mulheres, de modo idêntico, sempre o mais democrática possível. Procurando, salvo quando o interlocutor não age da mesma forma, fazê-lo de maneira afável e respeitosa.
Não preciso, para isso, de me dirigir necessariamente às pessoas com as quais me vou cruzando pelas igualitárias formas de «camarada» ou «cidadão», falando-lhes apenas com as ligeiras adaptações impostas pelas regras comuns de convivência social ou profissional. Ou requeridas pelo respeito devido aos «mais velhos». Mas até neste particular, uma vez que agora já me encontro mais perto destes, o princípio da igualdade no trato tende a manter-se.
Por isso, sempre me fez espécie o confronto diário com gente que trata os outros de acordo com o seu lugar social, exagerando na deferência ou abusando da familiaridade, passando da aparente simpatia à antipatia num segundo. Recordo uma pessoa do meu passado de quem me distanciei justamente por isso: por se desfazer em simpatia e subserviência com alguém de quem precisava, e, literalmente na conversa seguinte, tratar os outros de forma arrogante e autoritária. Em pouco tempo tornou-se uma marca de caráter insuportável.
É disto que me lembro quando observo como figuras públicas que conheço se comportam de forma muito diferente quando estão em campanha eleitoral ou em funções. Transbordando de comunicabilidade e sorrisos quando, noutros lugares, ou no resto do tempo, se revelam indiferentes às pessoas com as quais se cruzam, quando não como seres irascíveis. Bem sei que todos temos uma vertente da vida que é pública e outra que é privada, que nelas temos de nos adaptar às circunstâncias. Não aceito é a normalização da hipocrisia e do oportunismo. Pelo menos no meu horizonte, o único que consigo controlar.
Publicado originalmente no Facebook